HAJA PSICANÁLISE!

Há algum tempo venho me sentindo angustiado, porém não preciso enumerar fatos corriqueiros à nossa realidade, para demonstrações ululantes. Situações generalizadas fazem meu cérebro prever resultados matematicamente desagradáveis. Recorro à tabuada de Jung [1875-1961] e entendo que todos os resultados convivem com a escuridão... Isso não é legal.
Aquele velho anjinho comodista que temos na mente, continua a repetir: "A situação não é das piores. Olhe para os demais". O dilema perde força, porque os 'demais' também estão com problemas. Não sei quem vai doutrinar quem, nesse embate entre a mensagem angelical e a realidade que avança.
Existe uma fórmula, licitamente indestrutível, para tornar nossas vidas em meros atos repetitivos, sem qualquer satisfação. A maioria paga contas ao final de cada mês, assisti ao futebol, lava seu carro 1.0 e se declara justificada. Lembrei da crítica do poeta baiano, em acordes antigos e naturais: "Eu devia estar contente, porque tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável (...) e consegui comprar um Corcel 73".
O que trava meu raciocínio é saber que em lugares como a Nigéria, uma mãe se sente privilegiada, apenas por ter chegado ao nono mês de gravidez, mesmo sem saber se seu filho sobreviverá além do segundo dia. Embora o país tenha gigantes reservas de petróleo, a corrupção e a ganância pelo poder matam milhares de crianças, diariamente, aos moldes do Brasil.
Os avanços oferecidos pela comunicação moderna precisam também trazer soluções para as coisas de que estamos tendo conhecimento. Sabemos que não se trata de nenhum equipamento abduzido de qualquer filme de ficção científica, mas, sim, da nobre capacidade de compartilhamento de riquezas acumuladas.
Milhares morrem em Serra Leoa, região rica em diamantes. No Mali e em outras partes do mundo, mães estão matando seus próprios filhos, em nome da sobrevivência. China e Índia vivem exposta indignação, trazida pela superpopulação, entre tantos exemplos também na Europa e América Latina.
Difícil é ficar informado sobre essas coisas e não apresentar transtornos de personalidade. Às vezes pareço estar contaminado com o vírus rábico, com os tais comprometimentos dos membros inferiores e mais alguns outros sintomas da raiva.
Tomado pela vontade de ter nascido na Europa do século XIX, gostaria de poder enviar papiro aos mestres do assunto, solicitando longas conversas a respeito do grande útero terrestre e suas diversificadas frustrações futuras.
O que fazer com a raivosa mordedura da consciência? Será que fui mordido por algum morcego hematófago? Alguém pode aplicar o protocolo de Milwaukee na humanidade? Onde estão os betabloqueadores de Kardec? Esperem um pouquinho, vou ligar pro psicanalista e marcar uma sessão de descarrego.
José Neto

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