
Aquele velho anjinho comodista
que temos na mente, continua a repetir: "A situação não é das piores. Olhe
para os demais". O dilema perde força, porque os 'demais' também estão com
problemas. Não sei quem vai doutrinar quem, nesse embate entre a mensagem angelical
e a realidade que avança.
Existe uma fórmula, licitamente
indestrutível, para tornar nossas vidas em meros atos repetitivos, sem qualquer
satisfação. A maioria paga contas ao final de cada mês,
assisti ao futebol, lava seu carro 1.0 e se declara justificada.
Lembrei da crítica do poeta baiano, em acordes antigos e naturais: "Eu devia estar contente, porque tenho um emprego, sou um dito
cidadão respeitável (...) e consegui comprar um Corcel 73".
O que trava meu raciocínio é
saber que em lugares como a Nigéria, uma mãe se sente privilegiada, apenas por
ter chegado ao nono mês de gravidez, mesmo sem saber se seu filho sobreviverá além do segundo dia. Embora o país tenha gigantes reservas de petróleo, a corrupção
e a ganância pelo poder matam milhares de crianças, diariamente, aos moldes do
Brasil.
Os avanços oferecidos pela
comunicação moderna precisam também trazer soluções para as coisas de que
estamos tendo conhecimento. Sabemos que não se trata de nenhum equipamento
abduzido de qualquer filme de ficção científica, mas, sim, da nobre capacidade
de compartilhamento de riquezas acumuladas.
Milhares morrem em Serra Leoa, região
rica em diamantes. No Mali e em outras partes do mundo, mães estão matando seus
próprios filhos, em nome da sobrevivência. China e Índia vivem exposta
indignação, trazida pela superpopulação, entre tantos exemplos também na Europa
e América Latina.
Difícil é ficar informado sobre
essas coisas e não apresentar transtornos de personalidade. Às vezes pareço
estar contaminado com o vírus rábico, com os tais comprometimentos dos membros
inferiores e mais alguns outros sintomas da raiva.
Tomado pela vontade de ter
nascido na Europa do século XIX, gostaria de poder enviar papiro aos mestres do assunto, solicitando longas conversas a respeito do grande útero terrestre e suas diversificadas frustrações futuras.
O que fazer com a raivosa
mordedura da consciência? Será que fui mordido por algum morcego hematófago?
Alguém pode aplicar o protocolo de Milwaukee na humanidade? Onde estão os
betabloqueadores de Kardec? Esperem um pouquinho, vou ligar pro psicanalista e marcar uma sessão de descarrego.
José Neto
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