Apesar de o físico Marcelo Gleiser afirmar que até a vida humana só foi possível por causa de um conjunto de imperfeições, sabemos que parte do que assistimos não se trata de nenhum algoritmo cósmico, mas apenas da ganância, girando como esferas-viking, alterando negativamente nosso futuro.
Achando que ainda não enlouqueci por completo, procuro resultados positivos. Mas, tá difícil...
Na fronteira da Suíça com a França, criaram um túnel de 27km - praticamente um UFC atômico - com o objetivo de encontrar um doador de energia, profetizado corretamente pelo britânico Peter Higgs. A partir de então, não ficaria surpreso se apelidassem o lutador Anderson Silva de 'antipartícula de Deus', já que o método também promove uma espécie de combate.
Por falar em coisas estranhas... Como classificar a agressividade dessa prática, chamada MMA [Artes Marciais Mistas], em algo que não represente um retrocesso? Será que não basta a violência generalizada? Será que precisamos de um estímulo extra, com cobertura da TV? Penso que os jornais já reproduzem ‘drinks draculescos’, com excessivas doses diárias de sangue para população.
Para não dizer que tudo é radicalmente realista, temos outros vampiros que contrariam até a lei da gravidade, porque, mesmo depois de cometerem crimes e serem julgados, além de não devolverem o dinheiro roubado, ainda são promovidos a cargos melhores. Não parece que eles caem para [parte de] cima?
Aqui, políticos vivem apenas pela clássica pergunta do Programa Silvio Santos: “Quem quer dinheirooooooo”??? E como num jogral federal, eles discursam e o povo os mantêm no poder.
Nossos servidores combinam o seguinte... Pode roubar à vontade. Vão te chamar de ladrão, mas fica por isso mesmo. Depois, você vai passar umas férias nas Bahamas! A diversão só muda se você estiver com o nome na lista da Interpol. Daí, você vai gastar dinheiro em Campos do Jordão, dar entrevista pro Amaury Júnior, discutir política com o João Dória e ainda pensar se vai ou não atender ao pedido de apoio, do próprio presidente da República.
No Brasil, ainda faltam itens básicos, mas o governo prefere mandar bilhões de dólares para ajudar países sem fome e sem analfabetismo.
Enquanto as universidades federais estão paralisadas, a TV exibe um cantor sertanejo oferecendo a receita de seu prato favorito, ovo frito, em horário nobre. Parece que querem retornar à época em que os jornais eram obrigados a trocar notícias relevantes, por receitas de bolos e pudins.
Acho que a impunidade descarada pode surpreender a qualquer momento. Já pensaram que o estouro dos vidros do STF [Supremo Tribunal Federal] pode não ter sido por acaso? Existem avisos tão barulhentos que quase ninguém ouve.
Políticos investem nas suas verbas de gabinete, na falta de brioches na Europa, nos corredores escuros da Constituição, nos paraísos fiscais, no turismo corporativo, mas - desinteressadamente - não descem uma broca no solo para diminuir a sede das crianças que estão morrendo.
Analisem... Existe passeata em prol da maconha, dos gays, das vadias, dos animais, mas não aparece ninguém para pressionar contra a corrupção e o desvio de verbas públicas. Não é inacreditável? Nada contra as passeatas citadas, mas seria bom se nos uníssemos também para assuntos mais coletivos que segmentados.
Para não morrer de colapso – natural ou encomendado – vou permanecer indignado, protegendo minhas janelas e, claro, falando sozinho.
José Neto
3 comentários:
Meu amigo e irmão, é sempre um grande prazer ler seus textos e com este não foi, e nem haveria de ser, diferente. Suas palavras causaram-me surpresa e aqui confesso a mistura de sentimentos que advieram com a leitura do mesmo. Não que o tema por você abordado me fosse desconhecido e nem muito menos por seu talento revelado pelo estilo mordaz e preciso.
Acredito que quando palavras são apropriadamente utilizadas, a capacidade de visão das pessoas que as lêem fica ampliada, como se uma grande fotografia fosse assim posta diante delas. Assim acontece com esse texto, meu amigo, reservando-me o direito de acrescentar um pequeno, porém importante, detalhe. A fotografia pintada pelas suas palavras na realidade é um grande mural, um enorme mosaico que, pela abrangência das observações ali contidas, transcende o nosso tempo e revela traços de nossa formação enquanto sociedade que remontam épocas históricas.
A suposta demência que assola a cabeça do homem comum de hoje é a reação natural às perguntas que remanescem sem respostas ante à crise de valores de nossa sociedade. Falar sozinho é um remédio para não cair no abismo da loucura imposta ao homem, hoje solitário, e carente de horizontes. Hoje a civilização ocidental, na ânsia devoradora de se sobrepor à oriental (ou será o contrário?), é a filha bastarda de duas grandes guerras que incutiram a cultura do medo e da dominação dos povos por países mais desenvolvidos. Será que voltamos à época do Peloponeso ou da todo-poderosa Roma? Talvez o retrocesso encabece a lista de imperfeições que nos move em direção ao nosso futuro. Talvez o professor Marcelo Gleiser possa concordar com essa modesta opinião. Como conciliar progresso com manifestações inequívocas de retrocesso? Pergunta sem resposta.
O MMA nada mais é que a prática agressiva, há séculos conhecida, de pessoas lutarem até ferirem-se gravemente, proclamando-se assim um vencedor. A única diferença é a ausência de alguém para indicar com o polegar se o infeliz derrotado continuaria vivo ou não. O detalhe que assombra é o engajamento cada vez maior de crianças e mulheres no culto a essa prática, fato esse que meu conhecimento pouco profundo não permite afirmar se tal fenômeno também acontecia nos embates entre gladiadores da antiga Roma. Como resgatar valores de preservação da vida diante da necessidade de coletiva de se assistir violência gratuita entre pessoas que nem se conhecem? Outra pergunta sem resposta.
Impérios inteiros caíram diante da certeza de impunidade na corrida por usurpar o poder mediante a pilhagem ou mesmo a prática de golpes mais agudos contra o Estado estabelecido. Foi assim na China, no Egito, em Roma. Atualmente, e com efeitos globalizantes, corporações cujos poderes ultrapassam as fronteiras de qualquer país criaram e estouraram uma bolha em 2008 cujos efeitos até hoje nos penalizam. Abaixo da linha do Equador, repúblicas recém-saídas de períodos ditatoriais embalam as ilusões de um povo inculto com falsos horizontes de prosperidade a título da conquista e manutenção do poder a qualquer custo, e sob a luz do sol pilham o Estado diante dos olhos do cidadão comum, que nada faz. O motivo é um só e resgata mais uma pergunta sem resposta: Por que ser íntegro e honesto se quem eu escolhi para me governar tira de mim o pouco que me restou?
O conteúdo inócuo disponibilizado pela mídia para entreter a população, os ladrões de casaca que desfilam impunes suas fortunas em paraísos fiscais, a falência institucional dos órgãos incumbidos de manter e preservar o Estado de Direito, a segmentação de nossa sociedade que faz mais numerosas passeatas em defesa de usuários de drogas, gays, vadias e simpatizantes dos direitos dos animais e esvazia aquelas que expressariam nossa indignação, tudo isso, meu amigo, nada mais é que a complexa teia de (des)entendimentos que permeia nossa sociedade. Um quadro recorrente de uma sociedade em colapso e que seu texto retratou de maneira atemporal e com rara e feliz precisão.
Meu amigo e irmão, muito obrigado pelo texto e continue sempre assim; mordaz e preciso.
Meu irmão e amigo, sim tudo é verdade, estamos vendo algo velho em HDTV. Dia após dia tenho a plena certeza que a neve não é um problema aqui no norte do globo.
Observo tudo Bem Orientado Pelos Outros. Digo que isto é a maneira BOPE de ser ou de ver !
Sim, aqui não se fala em outro tema, o Brasil (aqui Brésil) está muito bem, tem até polícia de elite, tem morro pacificado e também mostra deputada dando bronca e falando firme: https://www.youtube.com/watch?v=Bp-UQ_69Skg&feature=related
Seria isto mais uma visão BOPE de ser? Caveira!!
Parabéns pela forma que transmite suas observações.
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