PRESSÁGIO

Mais um jornalista é assassinado no Rio de Janeiro, em busca da notícia e de melhores imagens para aumentar a audiência da TV. Quem se beneficia quando repórteres fazem incursões militares junto com policiais?
Se o povo aceita esse tipo de adrenalina no sofá de casa e se a polícia quer atenção imagética, por que não inserir câmeras nos capacetes da corporação? Pelo menos, eles estão - supostamente - treinados para esse tipo de atuação e risco.
Penso que algumas combinações podem nos oferecer um futuro desastroso. Violência e sexo gerando audiência para satisfazer o capitalismo que contaminou as vísceras da programação televisiva. Pra mim, os próximos passos serão distorcidos e catastróficos.
Visivelmente não há mais qualquer estrutura sustentável no serviço carcerário, e tudo caminha para a privatização do setor. Mesmo não querendo dar uma de profeta, já imagino estúdios de TV se instalando nos presídios que se transformarão em ambientes 'controlados', em laboratórios de seres quase humanos, dispostos a tudo. Desta forma, filmarão e exibirão ainda com mais detalhes os horrores dessa ferida contagiosa, para abastecer novos cofres. É triste prever isso, mas, infelizmente, vejo essa possibilidade.
Além dessas operações atuais, concordo que os policiais devam ter seu ofício acompanhado, também por causa dos inúmeros abusos. Meu voto é para que coloquem lentes-vigilantes nos uniformes dos comandantes de cada missão militar. E, ao final de cada tarefa, as imagens sejam assistidas por oficiais-corregedores e depois distribuídas para as emissoras, caso não haja nenhuma mudança nessa prática.
Sinto muito pela perda de jornalistas no exercício de suas funções não-militares, todavia com resultados colaterais igualmente arriscados.
Temos um grande debate em torno dessa gigantesca pauta que mistura dinheiro, Segurança, drogas, corrupção, mercado-negro de munição revestida, grupos táticos, vaidade e jornalistas em horário de trabalho.
José Neto

2 comentários:

Paulo Góes disse...

Meu grande amigo, vivemos em uma selva. E assim tem sido por anos, décadas e séculos a fio. A metáfora não se dá às custas das características incomuns de nossa de terra e nossa gente, haja vista as marcas deixadas por nosso passado colonial e nossa diversidade tropical. Não, não é isso. A selva a que me refiro é aquela esculpida na dureza do concreto de nossas cidades e na aridez imposta à nossa formação por um capitalismo interessado apenas no empobrecimento de nossas inteligências.
Sabedores que a chave capaz de abrir a porta desta cela é a informação, habilmente preparam, moldam, embalam e nos vendem pobres conteúdos cuja a única função é o entorpecimento. Daí nasce a grande importância do papel daqueles cuja atribuição principal é informar. Sim meu amigo, os profissionais da Imprensa. São eles a quem me refiro. Contudo, sou forçado a concordar com sua "TRISTE PROFECIA". É como alguém fosse possuidor da chave da própria cela sem ter como libertar-se ou, mais propriamente, libertar aqueles que, como que ele, acham-se igualmente presos.
Quisera eu ver uma Imprensa realmente livre, na qual profissionais não tivessem que arriscar a vida para trazer a notícia, ou que simplesmente toda a informação por ela trazida fosse liberta de todo e qualquer filtro institucional / mercadológico. Quisera eu ver a corrupção, o descaminho, o desrespeito, a falta de vergonha e honradez, mesquinharia e tantos outros vícios que permeiam nossa sociedade fossem postos à luz do dia com todas as implicações e autores identificados . Quisera eu ver profissionais como esse que perdeu a vida de forma tão estúpida, não ter a obrigação de se arriscar em nome de uns pontinhos a mais de IBOPE. Quisera eu ver tantas outras coisas que alimentam minha ilusão de um mundo melhor pudessem de fato acontecer, e que talvez jamais as verei. Por isso, meu grande amigo, compartilho a mesma TRISTE PROFECIA.
Parabéns, por mais este excelente texto!!!

Paulo Paraizo disse...

Neto, parabens pelo texto. Outro dia conversava sobre isso. O que faz algum meio de comunicacao ou mesmo um profissional se sujeitar a enfrentar esse tipo de situacao ?? Que tipo de jornalismo eh esse ?? Se querem filmar, que se contrate e de treinamento aos policiais - reporteres, mas submeter alguem a isso eh o cumulo da morbidez associada a falta de alternativa do profissional. Meus parabens, pois uma critica dessa vindo de alguem do jornalismo vai ser dificil ver de novo.
Abraco.