INVERSA

Você já teve a impressão de que quase tudo está seguindo no sentido contrário ao do seu entendimento? Coisas que deveriam ser inaceitáveis estão se tornando banais e se inserindo em nosso cotidiano.
Os ratos tomam conta da geladeira e servidores públicos aumentam seus proventos.
O dinheiro conduz a vida e as adolescentes alugam seus corpos, achando que estão finalmente vivendo a liberdade. A prostituição funciona como um falso acelerador das possibilidades, glamorizada em livros e filmes. A feminilidade está aniquilada pela promiscuidade. E os relacionamentos se aprisionam entre o látex e o risco.
Os hospitais particulares se transformaram num misto de loja de conveniência e boa opção de investimentos.
Os ladrões dão o veredicto sobre as contravenções e desfrutam de suas imunidades.
Dizem que os vendedores de armas são fundamentais para o 'tal' progresso mundial.
Políticos ou palhaços ocupam os mesmos lugares e atingem os mesmos resultados.
As músicas que cultuam o tráfico e as prostitutas, tomam conta do comportamento das mulheres que agora dançam quase nuas e abaixadas como animais.
Os impostos nunca são o bastante para abastecer as contas numeradas, nos paraísos fiscais. E o controle aumenta apenas para quem não detém o controle.
A fome e as doenças não cessam, enquanto toneladas de alimentos se estragam ao redor do mundo.
Advogados se tornam aliados do crime e as fardas servem apenas como esconderijo para dissimulação.
As faltas vão se acumulando e as vozes se esmaecem no esquecimento conivente.
Se eu fosse dar um novo nome ao planeta Terra, o chamaria de 'INVERSA'.
Para tentar não perder o discernimento, faço minhas manipulações caseiras com histórias de Geoffrey Blainey, mensagens de Yehuda Berg, Cartas freudianas e clarões quânticos de Marcelo Gleiser. Doses diárias, antes de dormir, são amplamente recomendadas.
E pensar que nós somos a causa de toda essa imperfeição devastadora.
José Neto

Um comentário:

Paulo Góes disse...

Lindíssimo texto, meu irmão. Nele está descrito parte do mundo que George Orwell, em seu 1984, tentou nos alertar, mas não tínhamos ouvidos nem consciência para que pudéssemos evitar. Até porque também não tínhamos, não temos e, talvez, jamais teremos condições de deter esse processo de banalização dos costumes e de, em última instância, do ser humano do qual derivam os pilares de nossa sociedade. Belíssima colocação de idéias usando de fina consciência. Fina, no sentido de elegante. Fina, no sentido de afiada, inquestionável e objetivo. Parabéns!!!