
Nascido no morro do Livramento, região portuária, teve uma infância doída, com duas grandes provações logo cedo. Aos seis anos de idade perdeu sua única irmã, e, quatro anos mais tarde, sua mãe também veio a falecer. Mestiço, descendente de negro alforriado, gago, pobre, epilético, dormia sobre folhas de jornal no chão de um cortiço e recebia comida da generosa vizinhança. Sua perspectiva não era das mais privilegiadas.
Com uma vontade enorme de prover seu sustento e aprender o que as letras oferecem, passou a vender doces na porta de uma escola, onde ficou conhecido como: Machadinho.
Alfabetizou-se subindo em um caixote, pelo lado de fora da sala de aula, até que uma baronesa do Cosme Velho soube de tal história e ofereceu-lhe morada em troca de serviços gerais. Preocupada com sua idade avançada, arranjou emprego para o menino que agora era funcionário de uma gráfica.
Diariamente, Machadinho sumia por uma ou duas horas no meio do expediente. Seu colega já intrigado pelo acúmulo de serviços, resolveu acompanhar as fugidas do novato para acabar com tal mistério. Depois de detalhada pesquisa no ambiente, encontra Machadinho no banheiro, trancado no reservado, tampa do vaso fechada, sentado em meio a livros, deleitando-se com as páginas vagarosamente descobertas. Foi demitido no mesmo dia.
A baronesa, sabendo a causa da demissão de seu protegido, indignada, contratou os melhores professores particulares para o ávido leitor em questão.
Desde então, todos sabem sobre esse expoente da literatura, conhecida referência internacional, artista de estilística incomparável, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, presidente da mesma até sua morte em 1908, quando tal função foi transferida para seu amigo Rui Barbosa.
Teve um casamento feliz e sem filhos com Carolina Xavier, uma portuguesa de família preconceituosa, fina e culta; dez anos mais velha, que gostava de ler grandes filósofos, como Schopenhauer. Sua carreira intelectual foi providencialmente amparada pelo cargo conquistado no funcionalismo público. Enfim, observamos uma gloriosa história que partiu do chão de um cortiço, passou pela cadeira 23 da ABL e ganhou os mais célebres gabinetes de leitura e literatura mundiais. Nosso “Machadinho” brasileiro. Desencantado com a humanidade como um Joaquim Maria, pertinaz como um Machado que foi Assis.
José Neto Pandorgga
Um comentário:
Esse blog está uma delicia!! Um clima maravilhoso, cheio de assuntos que são a minha praia!!
Com certeza vou linka-lo, posso, ne??? - Voltarei sempre!
Tá acontecendo mil coisas na minha vida, muito trabalho, estudos, correria e coisas novas! Desculpe a minha ausencia... Tenho certeza que a partir de hoje vou aprender demais com cada frase, história e exemplos seus...
bjs e bom dia!!
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