Aos 15 anos, já percebi que os olhares em minha direção eram diferentes. Quando estava na escola, minhas amigas observavam o que eu desenhava no caderno, a cor da minha sandália, meu penteado, se meus seios estavam crescendo... essas coisas de menina.
Os meninos olhavam minha mão escrevendo no caderno, como meu pé parava embaixo da cadeira, a parte do meu pescoço que ficava descoberta e se havia alguma coisa aparecendo.
Eu achava tudo um tédio. Ficava nervosa em época de prova e era proibida de sair. Minha mãe dizia que era por causa das notas, mas eu também sabia que não sobrava dinheiro para um cinema ou passeio.
Logo depois, minhas colegas começaram a pedir minhas coisas, dadas ou emprestadas. Uma queria meu prendedor de cabelo, outra pedia roupas, maquiagem e assim por diante. Ainda bem que não eram todas, senão teria de abrir uma lojinha.
Os meninos sempre se mostram nada originais, pelo fato de todos quererem a mesma coisa, sempre.
Durante um lanche com uma colega, comentei sobre o que havia refletido em relação ao comportamento das meninas e dos meninos. Ela logo falou: "Quando as pessoas querem, pagam para ter".
Não entendi a extensão do comentário, mas era certo que na bolsa dela havia mais dinheiro e objetos caros do que eu poderia ganhar ou comprar, mesmo se trabalhasse o ano inteiro.
Numa noite, conheci um cara que insistiu muito pra 'ficar' comigo. Como não sentia nada por ele, resolvi experimentar aquela frase que ouvi da minha colega.
Ele imediatamente perguntou: "Quanto você quer"?
Nessa hora, entendi o porque das garotas estarem sempre acompanhadas, vestindo roupas caras e com dinheiro no bolso.
Como num relâmpago cerebral, hoje sei que meninas atingem seus objetivos a qualquer preço. Cedo, já entendemos sobre algumas regras do capitalismo... Se muitos querem o que nós temos, nasce uma boa fonte de renda. Se a procura for grande, o preço sobe.
Os apelidos das minhas colegas mudaram. Antes, elas atendiam por 'branquela', 'sequelada', 'tartaruga'... Na última festa que as encontrei, viu um rapaz se aproximar de uma delas e dizer: "Como você se chama"?
Ela friamente respondeu: "Quinhentos dólares".
Achando que não havia ouvido direito, o rapaz repetiu a pergunta: "Não! Perguntei o seu nome".
Ela completou: "A hora".
A partir de então, resolvi aderir ao mesmo apelido das outras e passei a gastar mais com moda e beleza.
Hoje, posso dizer que realmente sou uma profissional.