DEPOIMENTO DE UMA PROFISSIONAL

Aos 15 anos, já percebi que os olhares em minha direção eram diferentes. Quando estava na escola, minhas amigas observavam o que eu desenhava no caderno, a cor da minha sandália, meu penteado, se meus seios estavam crescendo... essas coisas de menina.
Os meninos olhavam minha mão escrevendo no caderno, como meu pé parava embaixo da cadeira, a parte do meu pescoço que ficava descoberta e se havia alguma coisa aparecendo.
Eu achava tudo um tédio. Ficava nervosa em época de prova e era proibida de sair. Minha mãe dizia que era por causa das notas, mas eu também sabia que não sobrava dinheiro para um cinema ou passeio.
Logo depois, minhas colegas começaram a pedir minhas coisas, dadas ou emprestadas. Uma queria meu prendedor de cabelo, outra pedia roupas, maquiagem e assim por diante. Ainda bem que não eram todas, senão teria de abrir uma lojinha.
Os meninos sempre se mostram nada originais, pelo fato de todos quererem a mesma coisa, sempre.
Durante um lanche com uma colega, comentei sobre o que havia refletido em relação ao comportamento das meninas e dos meninos. Ela logo falou: "Quando as pessoas querem, pagam para ter".
Não entendi a extensão do comentário, mas era certo que na bolsa dela havia mais dinheiro e objetos caros do que eu poderia ganhar ou comprar, mesmo se trabalhasse o ano inteiro.
Numa noite, conheci um cara que insistiu muito pra 'ficar' comigo. Como não sentia nada por ele, resolvi experimentar aquela frase que ouvi da minha colega.
Ele imediatamente perguntou: "Quanto você quer"?
Nessa hora, entendi o porque das garotas estarem sempre acompanhadas, vestindo roupas caras e com dinheiro no bolso.
Como num relâmpago cerebral, hoje sei que meninas atingem seus objetivos a qualquer preço. Cedo, já entendemos sobre algumas regras do capitalismo... Se muitos querem o que nós temos, nasce uma boa fonte de renda. Se a procura for grande, o preço sobe.
Os apelidos das minhas colegas mudaram. Antes, elas atendiam por 'branquela', 'sequelada', 'tartaruga'... Na última festa que as encontrei, viu um rapaz se aproximar de uma delas e dizer: "Como você se chama"?
Ela friamente respondeu: "Quinhentos dólares".
Achando que não havia ouvido direito, o rapaz repetiu a pergunta: "Não! Perguntei o seu nome".
Ela completou: "A hora".
A partir de então, resolvi aderir ao mesmo apelido das outras e passei a gastar mais com moda e beleza.
Hoje, posso dizer que realmente sou uma profissional.

AS CRIANÇAS E OS CACTOS

Caminhava pelo cerrado da Bahia, sob um calor intenso, quando percebi que estava ficando sem água para beber.
Quase um quilômetro à frente, havia crianças sentadas no chão, guardando saquinhos de umbu [fruta local]. Sozinhos, eles esfregavam pedrinhas na terra e imitavam sons de animais.
Como em tantas outras vezes, lamentei por não ter reservas financeiras para modificar vidas.
Perguntei ao garoto: Tem algum lugar onde eu possa colocar água na minha garrafa?
Ele fez um gesto com a mãozinha toda suja e disse: vem comigo que vou te mostrar.
Naquele momento, estava sendo ajudado por uma criatura que precisava de todas as ajudas do mundo.
Sempre que encontro crianças necessitadas, me sinto derrotado.
Segui aquele garotinho pálido, sujo, faminto, por uns 20 minutos.
Chegamos numa casinha muito humilde. Ele chamou a mãe e logo veio o pai que - muito hospitaleiro - perguntou como eu estava.
Respondi que precisava apenas de um pouco de água para encher minha garrafa.
Foi quando este homem falou: Não senhor. Estamos servindo o almoço. Vamos todos comer. Você deve estar com fome, além de querer encher a garrafa.
Aquelas palavras encharcaram meus olhos. Dei um sorriso e abaixei a cabeça para aquele homem não me ver chorar.
Relutei e falei que bastaria um pouco de água. Mas novamente fui nocauteado pela dona da casa que mandou o garoto buscar os irmãos para a única refeição do dia.
Ela disse: Pode deixar sua bolsa [mochila] aí mesmo, meu filho. Eu já vou colocar os pratos.
Eu não queria diminuir ainda mais a comida daquela família. Por outro lado, não podia fazer tamanha recusa, já que eles estavam oferecendo de bom coração.
Enquanto a conversa avançava, as outras crianças chegaram e ouviram a mãe dizer: Todo mundo lavando as mãos.
Fizemos uma fila. A mãe já trazia uma velha panela, toda amassada... E virava um pouquinho de água nas mãos de cada um, para rápida higiene.
As crianças sorriam e se divertiam com minha presença naquela casa de barro batido, coberta com uma espécie de palha.
Diante de uma mesa com cadeiras improvisadas, sentamos e ouvimos o anúncio de que podíamos comer à vontade.
À mesa, dois potes de plástico, seis pratos, duas garrafas com água, copos e várias colheres.
Em um dos potes, farinha. No outro, algo que não soube identificar. Parecia um tipo de abobrinha cortada em pequenos quadrados, levados ao fogo para amolecer e fazer um caldo esverdeado.
Todos com cara de satisfação, enquanto minha cabeça não parava de pensar em como eu poderia auxiliar aquela família, além de sorrir, tentar brincar com as crianças, elogiar os pais e agradecer pelo alimento.
Depois de comer toda a comida que a dona da casa colocou no meu prato, perguntei o que era aquilo que estava tão bom.
Foi a vez do meu coração ficar aos pedaços.
Ela disse: Ah! Meu filho! Aqui, a gente só tem isso, todos os dias. O umbu [fruta] a gente quase não come, guarda pra vender. E os cactos, a gente ferve na hora do almoço.
Meu pensamento gritou em silêncio: Cactos?
Certo de minha incapacidade, orei a Deus! E se minha vida valesse alguma coisa, daria para tirar aquelas famílias dessa vida de miséria extrema.
Depois de ter me fortalecido com a palma do cactos e enchido minha garrafa com aquela generosa água meio marrom, esperei um momento de distração e coloquei uma quantia, equivalente a um belo almoço, sob a imagem de Nossa Senhora que estava no único cômodo daquele lar.
Me despedi das crianças. Enquanto elas pulavam e sorriam, abraçadas a mim, eu chorava e tentava esconder minha tristeza.
Abracei aquele pai e agradeci por tudo que recebi.
Por último, antes de seguir, disse algumas palavras para aquela mãe sofrida, beijei suas mãos maltratadas pela vida e ainda lhe fiz um pedido: "Por favor, assim que eu pegar a estrada, vá até àquela linda imagem de Nossa Senhora e faça uma oração agradecendo pelo nosso encontro".
Continuei minha caminhada, logo depois que ela me garantiu que faria a oração solicitada.
José Neto

ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY [1900-1944]

Desde já aguardo o filme que está sendo produzido para contar a vida deste escritor, poeta, piloto, soldado e ilustrador francês.
Por causa dele, aprendi muito cedo que "o essencial é invisível aos olhos", com seu texto mais famoso, "O Pequeno Príncipe". Sua obra continua sustentando milhões de crianças ao redor do mundo, através da Fundação Saint-Exupéry.
Relembrei de minha ligação com o escritor, ao passar pelo bairro do Campeche, em Florianópolis. Local frequentado pelo piloto no período em que foi diretor de operações da Companhia Aérea Francesa Aéropostale [1927], coordenando linhas entre Paris, Rio de Janeiro e Buenos Aires, com escalas em Santa Catarina.
Durante sua vida, Exupéry se deparou com uma rara vidente. Esta mulher revelou que seu encontro com a morte aconteceria quando completasse 44 anos de idade. Acreditando nisso, seu texto original "Le Petit Prince" registra que o personagem apenas veria o sol se pôr, 44 vezes.
Pouco antes de embarcar para sua missão na África [1943], junto com o exército americano, em defesa da França, entregou para editores de Nova York, as escrituras de uma das obras mais lidas do mundo moderno. E sempre que possível, entre um voo e outro, ligava para saber novidades sobre o futuro livro.
Em 1944, a profecia se concretizou em plena Segunda Guerra Mundial. Seu avião foi abatido por um alemão, no mar Mediterrâneo. Seu corpo nunca foi oficialmente encontrado.
Dentre as cidades que visitava com frequência, estava Québec, no Canadá. Mesmo envolto em reuniões com grandes nomes da intelectualidade internacional, todos sabiam que se houvesse crianças no local, Exupéry largaria as formalidades para se juntar a elas, mostrando seus aviões de papel e desenhos de próprio punho.
No Brasil, entre os pescadores do Campeche, já era sabido que ao longo de suas caminhadas, sempre haveria uma parada ou outra... Bastava encontrar um pássaro em arapuca ou uma cutia presa em armadilha, para Exupéry interromper o trajeto, até libertar os bichos.
Apesar de eu não ter tido a sorte de encontrar uma vidente tão assertiva sobre meu caminhar, encontro alguns pontinhos de ligação com a vida desse autor.
Vivi este personagem no teatro, fiz longas caminhadas pelas mesmas trilhas catarinenses, ouço - através de meu irmão - sobre essas reuniões na província de Québec-CA e também fiquei encantado pelo bairro do Campeche, região onde pretendo envelhecer, caso consiga chegar até lá.
Obrigado, Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint Exupéry.
José Neto

CEARÁ DE IRACEMA E SÃO JOSÉ

O Ceará se transformou em um dos mais promissores Estados do Nordeste e, apesar de todas as polêmicas negativas que envolvem a política local, a constatação do progresso é evidente em vários setores.
Desde a inauguração do Terminal Portuário do Pecém [2002], Fortaleza se consolidou como importante ponto para comercialização marítima, exportando itens jamais produzidos.
Algumas parcerias modificam inclusive a paisagem urbana com modernos cata-ventos que aparecem como uma novidade de 80 metros de altura, além de seu ininterrupto serviço de captura de energia limpa. Este é mais um dos exemplos que deveriam ser seguidos. Afinal de contas, os ventos fortes estão presentes em diversas regiões. Essa iniciativa fez do Estado o maior produtor de energia eólica do país, sendo capaz de extrair toda sua demanda, dentro de suas próprias fronteiras.
A transferência de conhecimentos botânicos também coloca o Ceará nas manchetes internacionais, como grande exportador de rosas. A Rosa de Iracema, que nasce sem espinhos, despertou o interesse de exigentes consumidores europeus.
A palavra-chave de tantas melhorias, chama-se irrigação. Atualmente, o suposto solo árido da região produz: Feijão, milho, arroz, algodão, castanha-de-caju, cana-de-açúcar, mandioca, mamona, tomate, banana, laranja, uva, melão, abacaxi, figo, além de coqueiros e carnaúbas que fornecem água, óleo, alimento, sombra, estrutura para pequenas construções, fibras e adubo. 
Uma das mais ousadas apostas da região é a melancia quadrada e sem sementes. Uma fruta produzida com técnicas orientais. As melancias assim que nascem são colocadas em cubos de alumínio e plástico, importados da Coréia do Sul. Pela adaptação natural da fruta, ela toma o formato do molde, desde que a quantidade de água e adubo seja monitorada para não apresentar rachaduras. Os melões já estão sendo submetidos à mesma técnica. Essa alteração atende principalmente a uma questão logística, pois desta forma preenche completamente os contêineres que partem carregados, rumo a outros continentes. Mais uma vez, o exótico favorecendo o lucro. Atualmente, a agricultura local exporta mais de 100 mil toneladas/ano de frutas para Holanda, Itália, Portugal, Espanha, Cingapura, Turquia, Rússia, Lituânia, Estados Unidos e Canadá.
E já que o assunto é lucro, o turismo aparece como um consistente arrecadador de moeda estrangeira para o local. Entre tantos passeios inesquecíveis, ao longo dos 570km de extensão litoral, o Estado atende e supera expectativas com suas praias tropicais.
O Labirinto das Falésias, a praia chamada Lagoinha, as jangadas de Canoa Quebrada, as areias de Morro Branco, a transparência da Lagoa Azul, as dunas de Cumbuco, as redes submersas da Lagoa Paraíso e a magia de Jericoacoara, colocam o Ceará em cobiçadas listas internacionais de visitação.
Um agradável diferencial da região é que quase todos os cearenses são comediantes. Eles brincam com os assuntos de uma forma ingênua, porém muito eficaz. Ao passar por uma humilde escola, totalmente abandonada e em ruínas, o guia não demorou a colher mais risadas, dizendo: "Este é o padrão de escolas do Ceará. São mais preparadas que qualquer universidade dos Estados Unidos ou Europa. São as únicas escolas do mundo que a pessoa, antes de terminar a alfabetização, já se transforma em deputado federal, indo direto para Brasília. Vejam, daqui saiu Vossa Excelência, o Tiririca". Achei a observação crítica e muito bem colocada. Todos riram mais uma vez.
Dentre os recursos minerais, o Estado oferece: Ferro, calcário, argila, magnésio, granito, petróleo, gás natural, sal marinho, grafita, gipsita e urânio bruto.
Os incentivos não param de atrair investidores e novas possibilidades. Está prevista a instalação de uma fábrica de aviões e helicópteros, proveniente da parceria entre as empresas Citasa, Enstrom Helicopter e Space Exploration, envolvendo os Estados Unidos e os Emirados Árabes, somando investimento inicial de meio bilhão de reais. E para resumir as possibilidades, fica claro que quem tiver seu Inglês fluente, pode pleitear rentáveis vagas e confortáveis posições naquele mercado.
Apesar de "abestado" ser uma palavra muito frequente no brincalhão vocabulário local, percebi rapidamente que de "abestados" eles não têm nada.
Agradeço minha estada à vestal dos lábios de mel [personagem literária de José de Alencar / 1829-1877], índia Iracema e ao padroeiro São José.
Obrigado e até a volta.
José Neto

CROP CIRCLES


Círculos na colheita - Seria uma alusão ao fim da fome mundial?
Mais uma figura circular e misteriosa surge em meio a uma plantação dos EUA, um intrigante objeto de reflexão. Uns dizem que são extraterrestres deixando mensagens ainda indecifráveis. Outros dizem que tudo não passa de brincadeira engendrada por camponeses locais. Apesar de já existirem até empresas especializadas nesses desenhos, o quê esperar, caso um ou outro não seja fruto do trabalho humano?
O mais importante em relação a isso é a esperança sufocada, desejando intimamente uma mudança, possivelmente vinda de esferas que estejam acima do egoísta e manipulador sentimento do homem.
Se foram extraterrestres, ótimo. Se foram os camponeses, ótimo também. Precisamos alimentar o amanhã, na tentativa de vibrar a "Teoria da Cordas" em busca de resultados positivos, distantes dos apresentados pela ética/moral que vigora.
Os cientistas garantem que extraterrestres - com vida inteligente - não existem ou nunca fizeram contato com nosso planeta. Daí os sinais aparecem. Meu ceticismo esclarece que qualquer máquina agrícola computadorizada poderia muito bem executar um programa de impressão ou algo parecido, em qualquer plantação do mundo. Logo chegam os ufólogos e falam dos tais "buracos de minhoca" [passagens cósmicas que ignoram os padrões já conhecidos sobre espaço e tempo]. Os católicos pregam que Cristo está voltando. Os evangélicos precificam o céu. A principal pergunta, é: Acreditar em quê?
A crença está sendo minada pela impunidade e, infelizmente, não temos um político como o presidente do Uruguai, José Alberto Mujica. Temos, sim, vampiros que consomem a própria vida da população, retirando nossa dignidade e rindo da lei tão aviltada.
Quando pensamos em punição, lembro dos políticos do Japão e dos guindastes iranianos que exibem corruptos dependurados em praça pública. Talvez isso ensinasse aos nossos parlamentares que dinheiro não deveria sobrepor a Constituição.
A descrença é tão grande que até uma figura que surge numa plantação longínqua, nos faz querer acreditar que exista algo maior, algo que nossa compreensão ainda não pode decodificar, algo que possa nos trazer algum sentido.
Como aceitar que um parlamentar brasileiro viaje sozinho num avião da Força Aérea, apenas porque deseja privacidade e conforto para seu objetivo burlesco? [Imagino que o medo de ser linchado dentro de uma aeronave comercial deva ser enorme] Depois, ele diz: "Pode deixar. Vou pagar pela minha passagem". E fica por isso mesmo. E o custo de todas as outras poltronas vazias? E a lei que proíbe tal escárnio? Ninguém cobra?
Seguindo esse raciocínio, um criminoso poderia estuprar as filhas de um deles e depois se redimir, dizendo: Calculem quanto vale a hora de uma boa prostituta, pois vou pagar pelo meu ato. E - pelo exemplo deles - também deveria ficar por isso mesmo.
Enquanto chegam os sinais, busquemos o caminho pelo qual poderiam vir as necessárias mudanças. Seria através dos extraterrestres? Seria por um índio, como na música do Caetano Veloso? Seria pelo nome de Joaquim Barbosa candidato? Seria por uma releitura dos militares? Ou seria pela radical importação de exemplares islâmicos?
Quais desenhos de futuro chegam até sua mente?
Aproveitem os desenhos... e também as colheitas.
José Neto

HAJA PSICANÁLISE!

Há algum tempo venho me sentindo angustiado, porém não preciso enumerar fatos corriqueiros à nossa realidade, para demonstrações ululantes. Situações generalizadas fazem meu cérebro prever resultados matematicamente desagradáveis. Recorro à tabuada de Jung [1875-1961] e entendo que todos os resultados convivem com a escuridão... Isso não é legal.
Aquele velho anjinho comodista que temos na mente, continua a repetir: "A situação não é das piores. Olhe para os demais". O dilema perde força, porque os 'demais' também estão com problemas. Não sei quem vai doutrinar quem, nesse embate entre a mensagem angelical e a realidade que avança.
Existe uma fórmula, licitamente indestrutível, para tornar nossas vidas em meros atos repetitivos, sem qualquer satisfação. A maioria paga contas ao final de cada mês, assisti ao futebol, lava seu carro 1.0 e se declara justificada. Lembrei da crítica do poeta baiano, em acordes antigos e naturais: "Eu devia estar contente, porque tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável (...) e consegui comprar um Corcel 73".
O que trava meu raciocínio é saber que em lugares como a Nigéria, uma mãe se sente privilegiada, apenas por ter chegado ao nono mês de gravidez, mesmo sem saber se seu filho sobreviverá além do segundo dia. Embora o país tenha gigantes reservas de petróleo, a corrupção e a ganância pelo poder matam milhares de crianças, diariamente, aos moldes do Brasil.
Os avanços oferecidos pela comunicação moderna precisam também trazer soluções para as coisas de que estamos tendo conhecimento. Sabemos que não se trata de nenhum equipamento abduzido de qualquer filme de ficção científica, mas, sim, da nobre capacidade de compartilhamento de riquezas acumuladas.
Milhares morrem em Serra Leoa, região rica em diamantes. No Mali e em outras partes do mundo, mães estão matando seus próprios filhos, em nome da sobrevivência. China e Índia vivem exposta indignação, trazida pela superpopulação, entre tantos exemplos também na Europa e América Latina.
Difícil é ficar informado sobre essas coisas e não apresentar transtornos de personalidade. Às vezes pareço estar contaminado com o vírus rábico, com os tais comprometimentos dos membros inferiores e mais alguns outros sintomas da raiva.
Tomado pela vontade de ter nascido na Europa do século XIX, gostaria de poder enviar papiro aos mestres do assunto, solicitando longas conversas a respeito do grande útero terrestre e suas diversificadas frustrações futuras.
O que fazer com a raivosa mordedura da consciência? Será que fui mordido por algum morcego hematófago? Alguém pode aplicar o protocolo de Milwaukee na humanidade? Onde estão os betabloqueadores de Kardec? Esperem um pouquinho, vou ligar pro psicanalista e marcar uma sessão de descarrego.
José Neto

GERÔNIMO


As iniciais O.B.L. serviram de código durante alguns anos, dentro da CIA (Agência Central de Inteligência Americana). Essas letras representavam o nome do terrorista mais procurado da história: Osama Bin Laden (10/03/1957 - 01/05/2011).
Em casos assim, sempre há previsão de um século para que a verdade possa vir à tona.
Curioso é saber que as duas narrativas, partidas do mesmo país (John Stockwell / Kathryn Bigelow), já trazem disparidades latentes para o ocorrido.
A fonte das informações parte da extinta prisão americana, em território cubano, chamada: Guantánamo, a fábrica de torturas.
O sistema nos oferece várias indagações para este caso. Vocês já pensaram que aquele país gastou mais de um TRILHÃO de dólares para capturar uma pessoa que, supostamente, era acessível ao presidente? A história fica ainda mais irônica ao sabermos que a recompensa por qualquer informação que levasse a sua captura, era de 25 milhões de dólares. Documentários indicam, inclusive, que os ataques ao World Trade Center (NYC - 11/09/2001 - 3.000 mortos) poderiam ter sido evitados, através dos muitos avisos dados pelo serviço secreto. Mas nada foi feito. Americanos mais radicais dizem que o povo precisava de um estímulo para compactuar com os gastos da invasão à terra do petróleo: Afeganistão.
Depois de 10 anos analisando os mínimos vultos deixados pelo fundador da Al-Qaeda (A Base), uma mulher integrante da CIA, finalmente obteve informações contundentes.
A Casa Branca analisava os fatos e refutava. Ouvia as considerações dos especialistas e negava o ataque. Até que esta mesma mulher afirmou ter 95% de certeza de que o homem encontrado no casarão em Abbottabad/Paquistão, era Bin Laden. Outros membros, por segurança, falavam de 40% a 60% de certeza, no máximo.
Vamos imaginar o que seria 10 anos de perseguição da CIA... Com todos os satélites, equipamentos, soldados, hackers, verbas, cruzamento de dados disponíveis... E não ser rendido nos primeiros dias? Uma chance: O fugitivo ser constantemente avisado das buscas.
Apenas para não perdermos as principais sinapses, consta que a família Bin Laden era sócia da família Bush (pai e filho, presidentes dos EUA); e que a invasão ao Afeganistão serviu principalmente para dar mais robustez ao projeto de poder de ambos, calcado em armas e petróleo.
A tal casa encontrada era uma fortaleza cheia de precauções que iam desde o não uso das comunicações eletrônicas, até a incineração total do lixo produzido.
Após já terem perdido oportunidade semelhante em Tora-Bora (Afeganistão/2001), e depois de mais de 4 meses de informações adicionais, a operação GERÔNIMO foi finalmente autorizada pelo presidente Barack Obama.
Helicópteros não rastreados transportaram um pelotão tático de Navy Seals (soldados) que executou a captura, em 40 minutos.
Durante a operação, morreram, também, o filho, uma das esposas e o mensageiro de Bin Laden. Um equipamento de reconhecimento facial (HIIDE - Handheld Interagency Identity Detection Equipment) foi utilizado para assegurar que o tal alvo de 1.93m de altura, era realmente o procurado 'terrorista'.
Ninguém explicou como uma das aeronaves caiu logo ao chegar ao destino.
Em época de alta tecnologia aliada à extrema curiosidade, eu pergunto: Apesar de todos os fuzileiros estarem com câmeras e transmissores; apesar de todos terem enviado imagens 'ao vivo'; apesar de ter um sala com pessoas assistindo e gravando a operação, em Washington; NINGUÉM publicaria - mesmo que anonimamente - uma única foto do suposto capturado? Por qualquer que seja o motivo... Vaidade, exclusividade, dinheiro, notoriedade, obrigação moral, dever político, distração, ironia, troca de favor, soberba, vontade, senso histórico, comprobação, sarcasmo, demonstração de coragem, aleatoriedade, ansiedade, reação natural etc. etc. etc. NINGUÉM?
Pior que isso, só mesmo a história do sepultamento em alto-mar.
No início do texto havia dito que um século era o esperado para a verdade aparecer. Mas, com esse pequeno detalhe, digamos, 'marítimo'... devemos ficar cientes de que essa verdade vai atrasar ainda mais um bocadinho.
José Neto

OB-SER-VO-A-DOR

Perceberam como aumentou o número de pessoas que falam sozinhas pelas ruas? Não são dementes. São indignados, como tantos de nós. Observadores de coisas muito esquisitas que estão acontecendo.
Apesar de o físico Marcelo Gleiser afirmar que até a vida humana só foi possível por causa de um conjunto de imperfeições, sabemos que parte do que assistimos não se trata de nenhum algoritmo cósmico, mas apenas da ganância, girando como esferas-viking, alterando negativamente nosso futuro.
Achando que ainda não enlouqueci por completo, procuro resultados positivos. Mas, tá difícil...
Na fronteira da Suíça com a França, criaram um túnel de 27km - praticamente um UFC atômico - com o objetivo de encontrar um doador de energia, profetizado corretamente pelo britânico Peter Higgs. A partir de então, não ficaria surpreso se apelidassem o lutador Anderson Silva de 'antipartícula de Deus', já que o método também promove uma espécie de combate.
Por falar em coisas estranhas... Como classificar a agressividade dessa prática, chamada MMA [Artes Marciais Mistas], em algo que não represente um retrocesso? Será que não basta a violência generalizada? Será que precisamos de um estímulo extra, com cobertura da TV? Penso que os jornais já reproduzem ‘drinks draculescos’, com excessivas doses diárias de sangue para população.
Para não dizer que tudo é radicalmente realista, temos outros vampiros que contrariam até a lei da gravidade, porque, mesmo depois de cometerem crimes e serem julgados, além de não devolverem o dinheiro roubado, ainda são promovidos a cargos melhores. Não parece que eles caem para [parte de] cima?
Aqui, políticos vivem apenas pela clássica pergunta do Programa Silvio Santos: “Quem quer dinheirooooooo”??? E como num jogral federal, eles discursam e o povo os mantêm no poder.
Nossos servidores combinam o seguinte... Pode roubar à vontade. Vão te chamar de ladrão, mas fica por isso mesmo. Depois, você vai passar umas férias nas Bahamas! A diversão só muda se você estiver com o nome na lista da Interpol. Daí, você vai gastar dinheiro em Campos do Jordão, dar entrevista pro Amaury Júnior, discutir política com o João Dória e ainda pensar se vai ou não atender ao pedido de apoio, do próprio presidente da República.
No Brasil, ainda faltam itens básicos, mas o governo prefere mandar bilhões de dólares para ajudar países sem fome e sem analfabetismo.
Enquanto as universidades federais estão paralisadas, a TV exibe um cantor sertanejo oferecendo a receita de seu prato favorito, ovo frito, em horário nobre. Parece que querem retornar à época em que os jornais eram obrigados a trocar notícias relevantes, por receitas de bolos e pudins.
Acho que a impunidade descarada pode surpreender a qualquer momento. Já pensaram que o estouro dos vidros do STF [Supremo Tribunal Federal] pode não ter sido por acaso? Existem avisos tão barulhentos que quase ninguém ouve.
Políticos investem nas suas verbas de gabinete, na falta de brioches na Europa, nos corredores escuros da Constituição, nos paraísos fiscais, no turismo corporativo, mas - desinteressadamente - não descem uma broca no solo para diminuir a sede das crianças que estão morrendo.
Analisem... Existe passeata em prol da maconha, dos gays, das vadias, dos animais, mas não aparece ninguém para pressionar contra a corrupção e o desvio de verbas públicas. Não é inacreditável? Nada contra as passeatas citadas, mas seria bom se nos uníssemos também para assuntos mais coletivos que segmentados.
Para não morrer de colapso – natural ou encomendado – vou permanecer indignado, protegendo minhas janelas e, claro, falando sozinho.
José Neto

NOSTALGIE

No final do século XIX, a França oferecia luxuosos châteaux, onde cortesãs iluminavam as noites parisienses, esfumaçadas pelo tradicional e peculiar timbre do piano. Os interiores, sempre, misteriosamente alegres e sombrios, aguçavam a protagonista curiosidade. A principal brincadeira era observar o cobrir e o descobrir das plumas e laçarotes que esbanjavam o puro poder feminino. Em meio a luzes coniventes, trapézios bailavam com suas frágeis vedetes num céu inventado pelos mais empíricos e apaixonados impressionistas. Elas fingiam com glamour, dançavam com elegância, vivendo como prisioneiras das fantasias alheias e, também, das suas próprias ilusões.
Em pequenos palácios com mobília nobre, sedas e veludos guardavam secretos desejos dos assíduos frequentadores... Aristocratas, artistas, intelectuais, boêmios e, sobretudo, românticos.
Para os padrões atuais, a maioria das beldades, certamente estaria acima do peso. Porém, como de costume, todas eram habilmente selecionadas e especialmente imaginadas para cada gosto.
Havia excentricidades, banheiras cheias de champagne Juglar, quartos preparados para fantasias pós-renascentistas, corredores sortidos com rolhas que continham a estrela, o círculo e a âncora do tradicional Veuve Clicquot, e, às vezes, janelas com visão unilateral para que o desenrolar da noite pudesse ser observado pelos voyeurs.
Comumente, celebrações estranhas aconteciam para abrir os trabalhos. Uma das lúdicas superstições era encher o penico de uma das garotas com genuíno champagne local, onde, então, todos os presentes bebiam o primeiro gole, passando-o de mão em mão.
Os vestidos e espartilhos eram bastante provocativos em cada uma das camadas que valorizavam essas quase-damas. Os preços variavam de acordo com a retirada parcial ou total da roupa. Por vezes, o clímax acontecia só pelo permissivo levantar de um pequeno e específico corte no pano, estrategicamente des-costurado.
Meninas também participavam dos tais rendez-vous, bastando somente a concessão da família, além do aval dado pela autoridade local, o que as tornavam aptas aos recintos.
Os burgueses faziam pedidos esquisitos e/ou alternativos. Alguns solicitavam jovens do sexo masculino. Sempre atendidos, retribuíam com valiosos presentes. Elas ganhavam pedras preciosas e muitas promessas que iam desde o casamento até a inclusão de seus nomes em testamentos de abastadas famílias tradicionais.
As fantasias sempre fizeram parte da atmosfera. Máscaras e personagens apimentavam e coloriam o imaginário. As irresistíveis fetichistas - por um merecido agrado extra - atuavam como bonecas vivas, gueixas, estátuas, animais, malabaristasouvintes, dançarinas, alunas, contorcionistas etc. Os dotes, digamos, 'artísticos', compunham a alegria de um país que se maravilhava com tantos talentos verdadeiros, como Auguste Renoir, Claude Monet, Paul Gauguin, Edgar Degas e aquele que mais retratou e frequentou esse curioso universo pervertido: o pintor Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901).
No entanto, resta-nos apenas sentir o que a Europa vivenciou e chamou de Belle Époque. Saudações à Mistinguett (Foto/1875-1956), uma das favoritas estrelas do inesquecível cabaré Moulin Rouge.
Saudade de uma Paris que jamais visitaremos.
Vive la France!
Voilà.
José Neto

PENITENCIÁRIA HEROPHILOS

Uma ação civil pública foi ajuizada com o objetivo de criar  uma Penitenciária federal para corruptos. Uma precisa definição de ideia VAZIA. Talvez se acabássemos com a 'impunidade parlamentar' e invertêssemos a ordem das palavras, poderia haver algum sentido. Quem sabe: Penitenciária para corruptos federais? Desta forma, teríamos lotação garantida, casa cheia, assim como acontece em tantas vielas sem tratamento de esgoto... Cheias e em movimento. Melhor seria se a ampliássemos para aceitação de corruptos das esferas estadual e municipal. Colocaríamos os presos para trabalhar de verdade. Esconder dinheiro deixaria de ser a especialidade da casa.
Conheci uma velhinha que almoçava aos domingos, sempre deixando um lugar à mesa para um duende-alienígena que - segundo ela - chegaria. Me parece que a expectativa se faz igual à anunciada pelo procurador do Mato Grosso do Sul.
O povo vê o dinheiro do contribuinte ser administrado por enormes roedores cinzentos, de pêlo sujo, dentes manchados de sangue, unhas afiadas e narinas comprometidas. O pior é que, dentre esses, ainda há uma espécie de elite-roedora que julga os processos de seus pares. A cada absolvição ou arquivamento, mais um pedacinho de queijo é separado para o conforto de seus familiares.
A atuação desses roedores - de várias maneiras - amarra a movimentação da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, fornecendo muita Muçarela e Parmesão para os abastados jantares comemorativos que espancam a cara da população.
O procurador Rockenbach, autor da ação, disse que pretende 'estudar o cérebro do corrupto'. Seria ótimo se ele homenageasse o médico Herophilos de Alexandria (Grécia 335 a.C. - 280 a.C.) e seus métodos de dissecação de órgãos. Neste caso, a profilaxia correta seria dissecar os cérebros dos corruptos que há décadas dissecam o dinheiro da merenda escolar, dos hospitais públicos, da Previdência Social, da Educação, da Segurança, da Infraestrutura...
A tentativa de construção da penitenciária, embora bem intencionada, pode liberar mais R$12 milhões para serem - também - devidamente... dissecados.
José Neto

GARGANTA DE PORCO

Tarde de sábado, família no quintal, uma boa 'garganta de porco' (culinária suína) na pressão (panela de pressão), cebolinha, tomate, farofa e algumas cervejinhas no gelo. De repente apertam a cigarra. Era o pessoal da Companhia de Energia, alegando que o relógio da residência estava sem o lacre de segurança. Segundo eles, isso caracterizava suspeita de 'Gato' (ligação clandestina). Entraram, testaram, analisaram, sentiram o cheiro da comida e deixaram o parecer técnico que realmente não havia 'Gato' na rede. Após tudo isso, antes de sair, instalaram um lacre amarelo.
Seguiu o almoço, como de costume.
Uma hora depois, tocaram a cigarra. Era o pessoal da Companhia de Energia. Desta vez, disseram que precisavam investigar o quadro de luz, porque observaram a presença de um lacre amarelo no relógio e isso caracterizava... suspeita de 'Gato'.
Mais uma vez repetiram toda a rotina, sentiram o cheiro da comida e reconfirmaram o parecer anterior que não havia 'Gato' nenhum, descarregando a energia da rua. Antes de deixar o local, colocaram novo lacre, agora, marrom.
Suíno temperado no fogo, molho à campanha saindo e, uma hora mais tarde, castigaram a cigarra de novo. Inacreditavelmente era o pessoal da Companhia de Energia. Disseram que precisavam checar a instalação, porque observaram um lacre marrom no relógio e... antes que terminassem o discurso, o proprietário da casa completou: "E isso caracteriza suspeita de Gato".
Procedimento cumprido... chamaram o dono da casa e - quase secretamente - perguntaram: "Será que o Sr. poderia colaborar com o leite das crianças"? (propina) O proprietário falou: "Por que eu deveria dar dinheiro a vocês? A ligação da casa está dentro da lei". Os funcionários entreolharam-se e disseram: "É... O Sr. tá certo. (Já no desespero fizeram a última tentativa) Então... será que a gente pode participar dessa 'garganta de porco' que tá na pressão desde cedo"?
Depois de todos almoçarem graças a generosidade do bom homem, ele disse: "Nunca vi rato procurar Gato e acabar aceitando porco para substituir leite de criança".
Haja 'garganta de porco' na pressão pra tanta malandragem!
José Neto

PRESSÁGIO

Mais um jornalista é assassinado no Rio de Janeiro, em busca da notícia e de melhores imagens para aumentar a audiência da TV. Quem se beneficia quando repórteres fazem incursões militares junto com policiais?
Se o povo aceita esse tipo de adrenalina no sofá de casa e se a polícia quer atenção imagética, por que não inserir câmeras nos capacetes da corporação? Pelo menos, eles estão - supostamente - treinados para esse tipo de atuação e risco.
Penso que algumas combinações podem nos oferecer um futuro desastroso. Violência e sexo gerando audiência para satisfazer o capitalismo que contaminou as vísceras da programação televisiva. Pra mim, os próximos passos serão distorcidos e catastróficos.
Visivelmente não há mais qualquer estrutura sustentável no serviço carcerário, e tudo caminha para a privatização do setor. Mesmo não querendo dar uma de profeta, já imagino estúdios de TV se instalando nos presídios que se transformarão em ambientes 'controlados', em laboratórios de seres quase humanos, dispostos a tudo. Desta forma, filmarão e exibirão ainda com mais detalhes os horrores dessa ferida contagiosa, para abastecer novos cofres. É triste prever isso, mas, infelizmente, vejo essa possibilidade.
Além dessas operações atuais, concordo que os policiais devam ter seu ofício acompanhado, também por causa dos inúmeros abusos. Meu voto é para que coloquem lentes-vigilantes nos uniformes dos comandantes de cada missão militar. E, ao final de cada tarefa, as imagens sejam assistidas por oficiais-corregedores e depois distribuídas para as emissoras, caso não haja nenhuma mudança nessa prática.
Sinto muito pela perda de jornalistas no exercício de suas funções não-militares, todavia com resultados colaterais igualmente arriscados.
Temos um grande debate em torno dessa gigantesca pauta que mistura dinheiro, Segurança, drogas, corrupção, mercado-negro de munição revestida, grupos táticos, vaidade e jornalistas em horário de trabalho.
José Neto

JIRA NA CCJ

Após recentes acontecimentos na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em Brasília, o - também ausente - ex-presidente da Câmara, ex-metalúrgico e réu do mensalão, João Paulo Cunha (PT-SP), defendeu a sessão do dia 22/09/2011, que superou todas as reuniões de mesa-branca já realizadas no Brasil. Nesta, foram necessários apenas três minutos e algumas palavras de contato com o além, para decidir sobre 118 importantes projetos. O cambono Luiz Couto (PT-PB) proferia palavras para as entidades parlamentares que estavam presentes, não em matéria, mas em energia cósmica. O deputado César Colnago (PSDB-ES), único espectador nesta sessão espírita, ouviu a voz do primeiro-cambono dizer: "Havendo número regimental, declaro aberta a reunião". Depois de 1 minuto, já exausto por tanta transferência de plasma pelo chacra laríngeo e de dinheiro pelo chacra bancário, ele se manifestou novamente, dizendo: "Os deputados que forem pela aprovação, a favor da votação, permaneçam como se encontram". "Permaneçam como se encontram", leia-se: AUSENTES. A partir daí, as velas tremularam, os ventos atravessaram a Câmara como camaleões no deserto e o cheiro forte de enxofre permanecia como se encontrava. Depois de breve concentração, o cambono-falante, mais uma vez, se dirigia ao deputado César Colnago para dizer essas lindas palavras: "Não havendo quem queira discutir, em votação. Está tudo APROVADO! Declaro encerrada a sessão".
O curioso é que para abrir uma sessão na CCJ (C que deveria ser de Constituição, e J de justiça), seriam necessários 31 parlamentares. Lembram quem são eles? São aqueles caras que recebem salários fantásticos e benefícios surreais para não fazer nada! Eles assinam a folhinha e vão continuar o que já estavam fazendo: nada ou alguma coisa muito egoísta, como transferir o dinheiro da Saúde, da Educação e da Segurança para contas - também - fantasmas. Dedução óbvia. Quem é estudante, tem conta universitária. Quem é fantasma, tem de ter conta fantasma.
Para nossa inteira decepção, dentre os que assinaram e foram embora, está o "ex-delegado da PF" Protógenes Queiroz (PCdoB-SP).
Nesses 3 longos minutos de intensa atividade parlamentar inteligente, vários projetos de concessão de radiodifusão, projetos de lei e acordos internacionais foram votados. A cada rodada, o cambono-praxe consultava o plenário, demonstrando admirável clarividência sobre seus coleguinhas de votação.
Apesar da Cristiana Lôbo ainda não ter revelado, há evidências e miasmas de que João Paulo Cunha vai receber dos irmãos espirituais, concessão de radiodifusão, com sede em Uberaba-MG, para distribuir votos e passes energéticos, via satélite. Resta saber quanto vai custar esse mimo astral.
Pelo andar da carruagem, acho que vou comprar um pequeno terreno pra plantar ervas da Jurema. Vejo que ainda vai rolar muito defumador pros filhos de fé. Haja arruda, guiné, benjoim, alecrim e alfazema.
E segue a Jira na capital federal... Ê Ê mizifio!!! HumHum!!!
José Neto

INVERSA

Você já teve a impressão de que quase tudo está seguindo no sentido contrário ao do seu entendimento? Coisas que deveriam ser inaceitáveis estão se tornando banais e se inserindo em nosso cotidiano.
Os ratos tomam conta da geladeira e servidores públicos aumentam seus proventos.
O dinheiro conduz a vida e as adolescentes alugam seus corpos, achando que estão finalmente vivendo a liberdade. A prostituição funciona como um falso acelerador das possibilidades, glamorizada em livros e filmes. A feminilidade está aniquilada pela promiscuidade. E os relacionamentos se aprisionam entre o látex e o risco.
Os hospitais particulares se transformaram num misto de loja de conveniência e boa opção de investimentos.
Os ladrões dão o veredicto sobre as contravenções e desfrutam de suas imunidades.
Dizem que os vendedores de armas são fundamentais para o 'tal' progresso mundial.
Políticos ou palhaços ocupam os mesmos lugares e atingem os mesmos resultados.
As músicas que cultuam o tráfico e as prostitutas, tomam conta do comportamento das mulheres que agora dançam quase nuas e abaixadas como animais.
Os impostos nunca são o bastante para abastecer as contas numeradas, nos paraísos fiscais. E o controle aumenta apenas para quem não detém o controle.
A fome e as doenças não cessam, enquanto toneladas de alimentos se estragam ao redor do mundo.
Advogados se tornam aliados do crime e as fardas servem apenas como esconderijo para dissimulação.
As faltas vão se acumulando e as vozes se esmaecem no esquecimento conivente.
Se eu fosse dar um novo nome ao planeta Terra, o chamaria de 'INVERSA'.
Para tentar não perder o discernimento, faço minhas manipulações caseiras com histórias de Geoffrey Blainey, mensagens de Yehuda Berg, Cartas freudianas e clarões quânticos de Marcelo Gleiser. Doses diárias, antes de dormir, são amplamente recomendadas.
E pensar que nós somos a causa de toda essa imperfeição devastadora.
José Neto

METRÔ DE NOVA YORK

Assim que desembarquei em Nova York, fui recebido imediatamente pelo conflito entre as imagens que o mundo recebe sobre aquela cidade e o que realmente ela é.
Minha primeira experiência não foi nada positiva. Era noite e eu estava sozinho naquele sombrio metrô que faz parte das coisas curiosas da identidade local.
Depois de ter recebido as boas-vindas do mal-humorado atendente, passei minha bagagem pela roleta e peguei algumas anotações para me familiarizar com todas as linhas sobrepostas e entrelaçadas daquele transporte.
O local é extremamente sujo e feio. Na madrugada, um dos passatempos prediletos dos novaiorquinos é jogar pedaços de sanduíche nas linhas para que os ratos se exibam e se alimentem. Um nojo!
De repente vejo um grupo de nativos carregando seus colares, medalhões, botinas, bonés, calças folgadas e muita hostilidade nas frases e atitudes.
Para quem espera cordialidade, melhor levar uma pequena pedra pontiaguda para descansar a cabeça. As pessoas são geralmente agressivas e nada receptivas para qualquer situação que não seja de compra e venda.
Quando saí na estação para a qual me dirigia, me deparei com todo o glamour da neve. Vale ressaltar que esse encanto dura no máximo dois ou três dias. A cidade gasta muito para tentar conter a paralisação por conta do gelo que se mistura à sujeira das ruas, resultando numa imundícia generalizada.
Temos de reconhecer: o marketing americano é impressionantemente competente!
Estou pensando em empalhar pequenos camundongos com a inscrição "Lembrança do metrô de Nova York" para vender para o resto do mundo. O que vocês acham?
Apenas para não postar um texto longo para minha curta audiência, darei continuidade sobre a cidade em outra ocasião.
José Neto

AMTRAK - MONTREAL / NEW YORK

Neste inverno, saindo do Canadá em direção aos EUA, resolvi ir de trem – AMTRAK – para conhecer outras cidades do interior dos dois países.
A neve cobre todo o percurso e preciso acreditar que dois pinguins ficam com óculos providos de infravermelho, na parte superior dianteira da locomotiva, orientando o maquinista. Se o trem não estivesse encarrilado, seria impossível seguir a rota, porque os trilhos simplesmente somem com a grossa camada de gelo.
A paisagem é bonita, porém constante. Todos os lagos estão congelados nessa época e a vegetação não resiste a temperaturas tão baixas quanto as do mês de janeiro, que circundam os trinta graus negativos.
As poltronas são largas e muito confortáveis, parecendo “primeira classe”.
O ambiente é aquecido e oferece janelões para uma viagem - também - visual, ao longo das doze horas entre Montreal e New York City.
Dependendo do seu objetivo, a velocidade do trem pode ser fator positivo ou negativo. Como eu estava sem pressa e com o intuito de conhecer o máximo da geografia e costumes daqueles países, a lentidão do veículo esteve a meu favor. Alguns desavisados reclamaram, pois o trem poderia perfeitamente ser acompanhado por uma lebre bem treinada, bastando apenas que ela tivesse agasalhada com um casaco da marca “The North Face” para não empedrar na linda paisagem lacustre.
Assim que o trem partiu, levantei para ir - rapidamente - ao banheiro. Quando voltei, achei que a companhia havia distribuído notebook, Ipod e Iphone para todos os passageiros, esquecendo de mim. Mas eu também gostaria de desfrutar do meu “Amtrak-Dia-Feliz”. Que nada, as pessoas possuem seus próprios brinquedinhos “high-tech” e os levam a todos os lugares.
Após um tempo de trajeto, entraram três MIB (Mens in Black) portando seus emblemas NYPD (New York Police Department) e eu percebi que estávamos parados ao lado de uma tremulante bandeira dos Estados Unidos, abandonando o território canadense. Quase perguntei se era a diligência do Jack Bauer (24 Horas), porque eles exibiam armas letais e não-letais, modernos transmissores, spray de pimenta, fardamento impecável e frases enérgicas nas portas de todos os compartimentos. De repente, uma mulher negra é convidada a se retirar, porque escondia um bebê no meio de seus pertences, simulando ser parte de sua bagagem de mão... Não gostaria de estar naquela situação.
Em seguida, o trem segue numa bela e agradável viagem pelo interior dos EUA. Perto das 21h desembarcamos, sem maiores problemas, na cidade de New York para novas aventuras que serão contadas em outras oportunidades.
José Neto

AGRADÁVEL VISITA AO DENTISTA

Primeiro tentei os dentistas associados àqueles planos que são vendidos na rua, como cachorro-quente. As salas são assustadoras. Eram 27 cabines dentro de um único cômodo, onde o grito era amplamente socializado e o atendimento era expresso. Um horror! Parecia algo do tipo McDia In-feliz. A cada 8 minutos uma obturação e a cada 12, um tratamento de canal. Apenas no plano Mega Platinum Extra Class, você recebia o kit especial: uma limpeza – que mais parecia o tridente do capeta nos seus caninos; uma rápida análise – momento que abrem a sua boca como se você fosse uma girafa africana; e, para finalizar, um spray de água de torneira com pasta de dente. Ufa!!!
Aliás, dentista adora falar a palavra 'limpeza'. É um código para dizer que, embora ele não vá fazer nada, você vai deixar um dinheiro para garantir cinema, pizza e pipoca para as crianças - dele e dos vizinhos!
Bom, abandonei essa parte do plano A, de ‘atormentado’ e fui para o plano B, de ‘bem mais caro’.
Liguei para o particular.
Imediatamente consegui um horário, dentro do meu melhor horário, no mesmo dia. Antes de chegar, já ouvia o som da máquina registradora pigarreando à sombra do sarcasmo.
Rapidamente recebo um scanner bucal que reflete todas as radiografias dos meus dentes num LCD colocado em frente à cadeira do paciente. O profissional mandou a secretária pendurar dois jacarezinhos que mordem um papel-toalha, já sinalizando que, SIM, vai doer! Ele analisa, coloca lupa, mexe no jacarezinho, amplia imagem, manda dar contraste nos pré-molares, força a junção da sua mandíbula e, quando menos esperamos, a seringa já está cuspindo a anestesia que vai escorrer até os mínimos compartimentos da sua carteira, adormecendo qualquer tipo de contestação racional.
Aplicou, deu um sorriso pra você e pronto... Já botou o 'tatu a motor' para roer adoidado! 3 minutos depois de o tatu ter trabalhado direitinho no seu siso, ele tira 700g de algodão da sua boca, dá duas tapinhas na sua bochecha e diz: Volta daqui a 30 dias... Pode acertar com a secretária, na saída.
Vale ressaltar que 30 dias é outro código para que você retorne só quando seu próximo salário for creditado, porque o salário deste mês já vai ficar inteirinho com ele.
30 dias depois, ele diz que aquilo tudo foi só um curativo e que vamos ter de partir para extração, já que o dente de siso não serve pra nada mesmo.
Tudo bem, já sei... Acerto com a secretária e volto daqui a 30 dias.
José Neto

TRAFICANTE OU ILUSIONISTA?

Oitenta policiais fizeram mais uma incursão na Rocinha (comunidade do RJ). Todavia, curiosamente, não conseguiram capturar o atual chefe do tráfico local. Sem falar que a fila para ‘vaga’ de traficante de comunidade, só aumenta.
O primeiro pensamento complacente do brasileiro é sempre o mesmo: ‘Faltam homens na corporação, falta armamento, faltam condições de trabalho etc.’. Contudo, parece que – desta vez – não faltou nada. Nem o diretor Ridley Scott colocaria defeito nesse desfecho cinematográfico. Foi uma fuga digna de superprodução americana - a seco - sem efeitos especiais, contando apenas com a vasta ignorância do contribuinte.
Imaginem a situação e respondam. Se três helicópteros oficiais blindados, tripulados por atiradores de elite - equipados e armados - estivessem sobrevoando a sua casa durante o dia... Você iria conseguir fugir - correndo a pé? Pois é, eu também fiquei com vontade de rir.
Foi mais ou menos assim. O procurado corria desesperado... As tiras de sua sandália iam se soltando... Eram mais de 20 homens armados sobrevoando e apontando rifles de precisão... 80 homens com a mesma missão... Três 'caveirões' para derrubar barricadas e avançar. E ele ainda conseguiu fugir?
A desculpa foi que o traficante se aproveitou da topografia do local.
Será que algum helicóptero tem limitações em relação a acidentes geográficos? Pelo que eu saiba, essas aeronaves são as únicas recomendadas até para resgates em terrenos com inclinação negativa.
A partir de agora, acho que a imprensa deva parar de chamar esse homem, de traficante. Afinal de contas, ele se mostrou um ilusionista de enorme talento. Como dizem: o Brasil é um celeiro de grandes artistas e grandes histórias. Aplaudamos: clap... clap... clap...
José Neto

SONHEI QUE EU ERA O PRESIDENTE

Sempre achei um enorme desperdício, soldados das Forças Armadas fazendo tarefas que não exigem preparo militar. Eles servem cafezinhos a oficiais, abrem e fecham correntes de estacionamentos, são mordomos nas casas dos generais etc. Será que um militar que se preparou para ingressar nas Forças Armadas está satisfeito em podar arbustos e alimentar animais de madames, enquanto tantas situações aguardam iniciativas qualificadas?
Bem, mas eu era o Presidente e podia tentar modificar algumas coisas.
Imediatamente solicitei reunião com os ministros da Defesa e da Justiça. Pedi que eles convocassem oficiais de alta patente do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Federal e BOPE para fazermos uma pequena operação. Aeronaves e veículos entregariam homens equipados e preparados, intelectual e fisicamente, entre 4:30h e 5:00h da manhã, em determinados pontos dos morros e do asfalto do Rio de Janeiro para capturar toda a rede alinhavada pelo tráfico e lavagem de dinheiro, incluindo políticos e magnatas esclarecidos que aguardavam suas fatias majoritárias de lucro, em suas mansões.
Sem qualquer espanto, recebi a notícia de que a Polícia Federal já tinha todos os registros, nomes de parentes, possíveis localizações de fuga, endereços estipulados como plano B, horários de trânsito, tudo rastreado em tempo real, em enormes monitores numa sala da qual já tinha ouvido falar.
Mandei que a Aeronáutica preparasse um cargueiro para ser o transporte de todos os capturados, com a logística necessária para suas novas funções, em novas terras.
Enviei comunicado à Marinha, ordenando – também – a revista de todas as embarcações de luxo que navegassem em águas brasileiras, sem exceção, de quaisquer proprietários, em quaisquer fronteiras. Antes das primeiras movimentações, instaurei um decreto acabando de vez com essa palhaçada, chamada: “Imunidade Parlamentar”.
Em conversa com dirigentes de Estados do Nordeste, delimitamos terreno na região do semi-árido, onde outra força militar levantaria, o mais rápido possível, nova prisão de segurança máxima, com irrigação artificial, abastecida pela abundante energia solar, sem sinal de telefonia celular e com variadas oficinas para todos os itens de necessidades básicas. Partiríamos do plantio e manipulação de frutas e verduras, passando pela confecção de pães e derivados, até o fabrico de movelaria diversa. Os detentos com nível superior ou equivalente, além do trabalho braçal, dariam aulas de ensino fundamental.
Foi uma experiência de sucesso com imediato resultado. Os níveis de violência e impunidade caíram abruptamente, e os jovens passaram a seguir novos e melhores exemplos. Naquele momento começávamos construir nova ética para gerações futuras.
Percebi que, com poucas decisões iniciais, consegui modificar situações internacionalmente vergonhosas.
O Distrito Federal teve de rapidamente abrir concursos para repor grande vazio repentino, enquanto eleições emergenciais se espalhavam por todo o país.
Quando acordei e refleti sobre meu sonho, tive a certeza de que a única coisa que realmente nos falta, chama-se: vontade.
José Neto

A FAZENDINHA E SEUS CAPATAZES

Após a publicação do jornal "O Estado de São Paulo" e a apresentação nos telejornais, assistimos a mais um episódio que pulveriza qualquer tentativa de crença na suposta moral dos políticos. A neta do "coronel" José Sarney, sem qualquer pudor, ética ou consciência, expõe um pouquinho das vísceras da política brasileira quando - por telefone - consegue mais uma contratação familiar para seu atual namorado.
Estudar, pra quê? Concurso, pra quê? Especializações, pra quê? Moralização, pra quê? Basta ter vovô em Brasília para que mais outra eterna torneira de dinheiro público e benefícios particulares se abra na casa de mamãe, papai, titio, maninho, amigos e até na casa do atual namorado. Será que essa garota vai pedir a vaga Federal de volta depois que o namoro terminar?
Até o Presidente Lula - pai do "Lulinha Telemar" - já confessou, como "nunca antes na história desse país": "todos os senadores são ótimos pizzaiolos". Mas, infelizmente, o povo não tem instrução para fazer nada. Servimos para arrebentar as mãos plantando tomates para que jamais falte molho em todas as pizzas dessa fazendinha chamada: Brasil.
O escárnio é tão grande que até os verdadeiros pizzaiolos ficaram ofendidos por serem comparados aos senadores.
Hoje estou ainda mais envergonhado com a pequenez, mesquinhez, insignificância e nenhuma elevação moral dos políticos para conosco: os otários, assalariados, desempregados, esperançosos e estudiosos brasileiros.
José Neto

OPERAÇÃO BERNHARD

Quem diria que um grupo de judeus estava entre a ética e a sobrevivência, auxiliando assassinos nazistas, em troca da promessa de suas próprias vidas?
O maior programa de falsificação da história foi nomeado de “Operação Bernhard” (1942 a 1945), em homenagem ao nazi Bernhard Krüger que capturou, em Viena, o mais renomado falsário do mundo – Salomon Sorowitsch (1899-1960) – judeu formado na Academia de Belas Artes de Odessa (Rússia), para ser o grande banqueiro da II Guerra Mundial. A idéia era enfraquecer a economia dos Aliados e aumentar o número de mortes para além dos conhecidos 52 milhões (judeus, polacos, comunistas, dissidentes políticos, católicos, protestantes, homossexuais, negros, eslavos, húngaros, poloneses, ciganos, deficientes físicos, deficientes mentais, prisioneiros de guerra, sindicalistas, pacientes psiquiátricos e demais opositores), subjugados pela S.S.
Já no final do Terceiro Reich, mais precisamente no campo de Sachsenhausen, galpões 18 e 19, os falsificadores imprimiram – com perfeição – cerca de 130 milhões de libras esterlinas para fortalecer os cofres de Hitler e de seus comparsas, obcecados pelo poder. A quantia representava o quádruplo das riquezas estocadas no Banco da Inglaterra.
Nas horas vagas, também falsificavam dólares e passaportes para os ratos fardados que já preparavam suas fugas, planejando uma vida abastada, mesmo depois da aguardada derrota da Alemanha.
Dentre esses judeus falsificadores estava Adolf Burger (foto), preso n°64401, sobrevivente de Auschwitz-Birkenau (sul da Polônia), local onde deixou sua esposa Adele. Burger, ainda vivo, relator do episódio acontecido na “Gaiola de Ouro”, diariamente arriscava a vida do grupo, no intuito de atrapalhar e atrasar a entrega dos dólares falsos, acreditando que esse lapso de tempo poderia modificar toda a situação.
Mais tarde, em 1959, no Lago Toplitz (Áustria), foram encontrados vários engradados recheados com libras, entre tantos outros segredos da II Guerra.
Depois do suicídio de Hitler e de sua esposa Eva Braun (Führerbunker de Berlim - 30 de abril de 1945), Salomon, protegido pelo seu maior talento, frequentou inúmeros cassinos, com identidades variadas e dinheiro à vontade para jogar e se divertir com belas dançarinas. Burger escreveu um livro - "The Devil´s Workshop" - e ainda viaja com suas palestras reveladoras, replicando as marcas definitivas daquele período.
José Neto

MICHAEL JOSEPH JACKSON

Michael Jackson (1958-2009) foi um daqueles gênios, redundantemente excêntricos, que descobriu algo mais sobre a vida. O quê essas pessoas descobrem para marcar - para sempre - várias gerações?
“Thriller” foi o álbum mais vendido da história, superando todos os grupos e artistas, como: The Beatles, Elvis Presley, James Brown, Rolling Stones, Prince, Mariah Carey, Whitney Houston, Madonna entre tantos outros participantes desses enormes índices de venda.
Não sei se conseguimos entender a amplitude desse efeito, mas o planeta - mesmo que por alguns instantes - sentiu sua perda. Sua partida teve magnitude para dar uma queda de energia, um curto momentâneo na bola terrestre. Não lembro de outro feito para tal.
Não havia como não ser atingido pela doçura da sua voz aliada ao talento de suas performances. Ele agradou a quase todos.
Impossível encontrar um artista tão marcante em minha geração.
Perdemos um talento único, um gênio, um apostador.
Deixou inesgotáveis sucessos, revolucionou todos os segmentos do show business, partiu com uma dívida de 1 bilhão de dólares e sinaliza a comprovação de que existe algo na vida que pouquíssimos têm a possibilidade de descobrir.
José Neto

DIPLOMA

Cai a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para contratação nos meios de comunicação. Para esta votação, apenas o ministro Marco Aurélio Mello (foto/de pé) votou a favor dos jornalistas.
Claro que a formação acadêmica continuará preparando bons profissionais para que aprendam a entender o que realmente está por trás dos acontecimentos e das intenções.
Se os jornalistas revelam coisas indesejáveis, a idéia é desqualificá-los para que as acusações percam força.
Dessa forma, agradam a alguns proprietários que vão poder reduzir salários de novos contratados, além de incentivarem textos vazios, descontextualizados, escritos por celebridades instantâneas.
Precisamos de iniciativa como a do ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que se dirigiu publicamente ao ministro Gilmar Mendes (foto/sentado) e disse: "Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste País. Vossa Excelência está destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".
Aguardemos manifestações de outros corajosos representantes.
Alguém tem o telefone do Arnaldo Jabor?
José Neto

MORAL OU ÉTICA?

Estamos acostumados a ler que falta ética no Brasil, mas essa é uma afirmação equivocada. “Ética é a passagem do sentido biológico para o cultural”. É quando optamos por uma doação - qualquer - de sentido, por um modo de ser, por um modo de existir; é quando respondemos à pergunta: Para quê viver? A finalidade que se encontra nessa resposta, representa a ética.
A moral está diretamente ligada ao respeito pelo outro, à necessidade de socialização, de educação para o bom convívio. A moral está presente na resposta à pergunta: Como devo agir?
A ética traz o Bem Viver (não significa viver bem); enquanto a moral deve trazer o Bem Agir. Na vida prática, o Bem Agir, a moral, é aquilo que nos proporciona a Bela Vida (não a vida bela), a alegria e o respeito por si mesmo.
A ética tradicional sempre esteve associada ao plano religioso, até o advento da Peste Negra ou peste bubônica (séc. XIV) transmitida através das pulgas de roedores que viajavam nos porões dos navios de comércio, vindos do oriente (1346-1352), quando um terço da população européia foi exterminada, 75 milhões de pessoas, despertando a consciência realista de que a Igreja nada pode fazer em relação à morte. Pior, ainda condenava a quem tentasse desenvolver a cura, alegando bruxaria.
Apesar de toda contribuição de René Descartes (França 1596-1650) à estruturação do Princípio Científico, somada a outros “esclarecimentos” do Iluminismo (séc. XVIII), quando Immanuel Kant (Alemanha 1724-1804) clamava para que a humanidade começasse a pensar por conta própria, utilizando sua autonomia; ainda hoje, em pleno século XXI, pessoas condicionam suas éticas a um ou outro tipo de religião, crendo que a contribuição, inclusive financeira, atenuará questões irrefutáveis, como a própria morte ou o bem viver.
Para o nosso país, falta moral. Há falta de respeito pelo outro, cometida, inicialmente, pela péssima distribuição de renda e pelo “como agir” consciente e estudado para lesar, impunemente.
José Neto

ALGUÉM GOSTA DE CRESCER?

Ando com uma saudade imensa da minha infância. A gente cresce e vai percebendo que caminha para um lugar bem diferente daquele que um dia pensáramos escolher.
Só hoje entendo os mais velhos dizendo que seria maravilhoso combinar experiência com juventude. Isso sim, seria um presente da vida. Mas, "quando achamos que sabemos as respostas, alguma Força muda as perguntas". O problema é que essa brincadeira segue por anos e, quando percebemos, tudo está diferente. Vem o espanto com as imposições do dono da vida: o tempo.
Alguns misturam teses freudianas com frases antropológicas, ditos gregos com provérbios budistas, para não aceitar a perda da infância.
Eu gostava de SuperAmigos, Pato Donald, Pantera cor-de-rosa, mas hoje sei que existem mensagens políticas e subjetivas até nos desenhos animados. Caramba, liberem pelo menos os desenhos animados. Mas, não, os políticos precisam de soldados e de dinheiro.
Eu brincava até ouvir a voz da minha mãe chamando pro almoço. Reclamava daquela interrupção maternal. Hoje vejo que ter almoço é praticamente uma bênção para a superpopulação mundial. O chato é que começo a entender que as mensagens nos desenhos, junto com a vontade dos políticos, fazem com que milhões de mães não chamem seus filhos para comer.
Olha no que a gente fica pensando depois que cresce.
José Neto